Juniores: Atacante Evander superou drama na infância e chegou à Seleção Brasileira Sub-17

Quarta-feira, 07/10/2015 - 11:46
comentário(s)

Filho de peixe, peixinho é. O ditado já dizia, e quiseram os Deuses da bola que o quarto entrevistado da série “SELECIONADOS” seguisse os passos do pai. Filho do ex-volante de Botafogo e Bangú, com passagens pelo futebol de Portugal e México, Evandro Ferreira, o meio-campista Evander, do Vasco, superou um drama vivido em função da má condição financeira da família na infância, ultrapassado graças à luta e perseverança dos pais.

Primeiros passos

Quem vê a condição de vida levada por Evander hoje, não sabe o que o jogador e sua família, todos do Rio de Janeiro, tiveram que passar há anos atrás. Seu pai hoje é um empresário bem sucedido no ramo do futebol e possui clientes internacionalmente conhecidos como Vagner Love, Hugo (ex-Goiás, São Paulo e Grêmio) e Kenedy, revelação do Fluminense contratada há pouco tempo pelo Chelsea, da Inglaterra. No entanto, as oportunidades nem sempre bateram na porta da família Ferreira.

“Lógico que passei dificuldade na infância. Não nasci em berço de ouro. É porque, graças a Deus, as oportunidades que meus pais tiveram, eles aproveitaram e trabalharam muito para me dar uma vida boa. Mas, até os meus cinco anos, eu dormia no chão e minha irmã em um sofá. Meus pais dormiam em uma cama quebrada. Posso dizer que, realmente, os que mais sofreram foram eles e a minha irmã, mas eu também peguei um pouco de dificuldade”, revela.

O pai, Sr. Evandro, explica que na época em que ele atuava nos mais diversos gramados pelo mundo, não se ganhava o suficiente para garantir o futuro de gerações como hoje e, como o futebol acabou atrapalhando seus estudos, depois de parar foi ainda mais difícil garantir o pão de cada dia.

“Eu joguei em uma época difícil, onde não se ganhava muito dinheiro. Quando eu parei, parei sem nenhum centavo. Não tive a oportunidade de estudar em função do futebol e tive a ajuda dos meus sogros para continuar a luta depois. Aconteceu de eu começar a trabalhar com alguns garotos e, nesse meio tempo, fiz alguns negócios pequenos. Aí, graças a Deus, aconteceu a situação do Vagner Love (vendido do Palmeiras para o CSKA Moscou, da Rússia), que mudou o nosso caminho”, conta.

A outra grande parcela de contribuição para que o futuro da família mudasse veio de Dona Marcia. Além de seus pais terem ajudado os Ferreira a se reerguerem, era ela quem dava o suporte em casa para o marido ter tranquilidade para trabalhar. Passado o período difícil, Sr. Evandro enxergou no filho um talento que precisava ser lapidado e juntou o fato de Evander amar futebol desde criança, com a real possibilidade seguir a carreira do pai.

“Eu nasci no meio do futebol, meu pai foi jogador e eu já nasci gostando. Comecei na escolinha do Bangú, com cinco anos. Com uns sete ou oito, fui para a escolinha do Vasco e, com nove, entrei realmente para o clube, para o futsal. Conquistei bastante títulos. Não tenho ideia do quanto, mas os principais foram os Cariocas, que foram três. Jogava de pivô”, lembra, sendo completado pelo pai.

“Ele sempre gostou muito. Quando eu saia para jogar minhas peladas, ele sempre chorava querendo ir e a gente foi observando que ele tinha algum talento. Começamos a fazer alguns trabalhos com ele e ele foi rendendo. Quando viemos morar na Barra, o Vasco estava aqui, tinha o futsal e a escolinha e eu optei por colocar ele. Lá, ele começou a se destacar, aprimorar o talento dele. Quando foi para o futsal do Vasco, a coisa tomou um rumo diferente, porque era mais competitivo. Mesmo assim ele sempre foi se destacando e chegou aonde está hoje. Para mim, é um orgulho porque a nossa família é toda vascaína e a gente espera que ele consiga ter muito sucesso com a camisa do Vasco no profissional”.

Após virar destaque no futsal do Cruzmaltino, Evander foi convidado pelo clube a treinar no campo: era o começo de uma carreira promissora. “No próprio Vasco, eles chamaram quem estava no futsal para ir para o campo. Meu sonho desde criança era jogar no campo. Usei o futsal para me dar base, habilidade e dinâmica”, explica.

Adaptação

Os primeiros passos do jogador, hoje com 17 anos, foram lentos. Segundo o atleta, houve alguma demora na adaptação, mas depois do entrosamento com os novos colegas, dentro e fora de campo, tudo melhorou significativamente.

“Demorei um pouco para me adaptar, mas, depois que me adaptei, comecei a trabalhar cada vez mais forte para conquistar uma vaga entre os titulares. Depois que isso aconteceu, trabalho mais ainda para que não tomem a minha vaga. Hoje, tenho uma relação muito boa com meus companheiros. Brinco igualmente com todos e acredito que todos também gostem de mim. Isso ajuda muito”, conta.

Comparações com o pai

Era natural que as comparações viessem. De acordo com Evander, isso nunca foi problema. Hoje, ele prefere ouvir apenas o que o próprio pai diz para poder trilhar o caminho certo e se aproximar cada vez mais da profissionalização.

“Eu absorvo o que ele diz com toda a atenção para não poder passar por coisas ruins. Ele já passou por tudo e me dá o caminho certo. Não sinto pressão nenhuma. Graças a Deus, tudo vem dando certo na minha vida e ninguém fica falando sobre isso. Eu chego em campo e jogo o meu futebol justamente para ninguém falar nada. Dou o meu máximo”, garante.

Dono de um olhar privilegiado sobre o futebol, é o próprio Sr. Evandro que administra a carreira do filho. Mas Evander ainda tem mais gente da família cuidando de outros setores da carreira: é o caso de Emanuelly, irmã e assessora do jogador. Se isso incomoda? Pelo contrário. “Minha irmã faz um trabalho de marketing e minha assessoria. Eu considero normal. Sei que ela vai querer sempre o melhor para mim, até por ser minha irmã”, pontua.

Seleção Brasileira

A vida organizada fora de campo somou para que tudo desse certo dentro das quatro linhas. O bom desempenho garantiu a Evander uma vaga entre os 21 convocados pelo técnico Carlos Amadeu para o Mundial Sub-17, que acontece entre outubro e novembro deste ano, no Chile. O pai comemorou a fase vivida pelo pupilo, que teve que abdicar de um pouco da infância para chegar aonde está.

“O Evander teve uma infância legal dos oito até os 14 anos. Podia brincar, conseguia conciliar. Mas depois dos 15 anos e até hoje não tem muito tempo. É tudo em função do futebol, de viagem. Mas, é o que ele gosta. A gente está feliz. Ele é feliz. Tem o pé no chão e sabe que o que está acontecendo é legal, é muito bom, mas ainda tem muita água para passar debaixo da ponte. A gente apoia ele dentro do que é possível. A mãe, a irmã e eu. Está indo, graças a Deus, tudo bem e a gente espera que, junto com os companheiros, ele consiga trazer esse título para o Brasil”, diz.

Fazendo coro às declarações, Evander, que foi convocado pela primeira vez, em 2013, para a Seleção Sub-15, disse saber que o sucesso é consequência do trabalho bem feito e que espera chegar ainda mais longe. “Meu sonho é, se Deus quiser, me tornar um grande jogador. Fazer a minha história no Vasco. Quero deixar a minha marca lá. Não penso em jogar na Europa apenas. Quero ser feliz e onde eu me sinto feliz é jogando no Vasco. Tenho o sonho de chegar à Seleção profissional e ganhar uma Copa do Mundo”, planeja.

Com uma boa condição de vida, Evander olha para os pais e se vê grato pelo esforço que fizeram. Agora, o garoto quer trabalhar forte para trilhar seu caminho e retribuir tudo o que a família fez e faz por ele.

“Graças a Deus mudou muita coisa de lá para cá. Naquela época era difícil jogador ganhar dinheiro. Deus nos ajudou muito e os meus pais trabalharam muito para mudar a nossa situação. Meu pai dava aula em escolinha, sempre arrumava coisa para fazer, até ter a chance de se tornar empresário. Hoje, é ele que cuida de tudo na minha carreira”, reconhece o promissor jogador, que finalizou se apresentando aos torcedores que o verão vestir a camisa verde e amarela daqui a 13 dias, quando o Brasil estreia na competição diante da Coreia do Sul.

“Sou um meia-atacante que gosta muito de finalizar de média e longa distância, ajudar na marcação e chegar bem na área. Não sou veloz. Sou aquele cara que abastece os atacantes. Chuto com as duas pernas, mas o pé dominante é o direito”.

Ficha técnica

Nome: Evander da Silva Ferreira;
Data de nascimento: 09/06/1998;
Altura: 1,80m;
Peso: 76 kg;
Time: Vasco da Gama



Fonte: Portal DaBase